Diria Hobsbawm, em a Era dos Extremos, que a "maior das revoluções do
século XX foi a revolução feminina". Houve um repensar do papel da
mulher na sociedade, a partir do momento em que o Brasil deixa a
República Velha, com seus valores rurais restritivos, e caminha ao
industrialismo. É nas cidades, nos grandes centros urbanos, que as
disparidades entre os gêneros feminino e masculino ganham maior
visibilidade. Não está em jogo apenas o direito ao estudo, ao trabalho e
ao voto, mas uma emancipação de velhas estruturas machistas, hoje ainda
visíveis em declarações polêmicas como as do mitilar Jair Bolsonaro. No
entanto, são casos isolados, em fase de extinção na medida em que a
sociedade evolui em cultura, conhecimento e compreensão.
Nesta
semana, em palestra na Universidade Metodista de São Paulo, campi Rudge
Ramos, a Dra. Renata Gonçalves (UNIFESP - Baixada Santista) destacou a
importância da contribuição da socióloga Heleieth Saffioti (1934-2010)
que, em plena ditadura militar, desafiou às estruturas arcaicas do
Brasil, típicas do final do século XIX e início do século XX, de
submissão do papel da mulher na sociedade urbano-rural. Segundo
Saffioti, apenas o alcançar alguns direitos antes restritos ao homem não
garante à mulher uma total emancipação; pelo contrário, destaca a
importância de se romper com velhas estruturas restritivas, para que se o
alcance o pleno direito.
Grandes personalidades brasileiras, como
Cecília Meirelles, Rachel de Queirós, Clarice Linspector, Olga Benário,
Cora Coralina, Thalita Rebouças, Telma Guimarães, Ruth Cardoso, Marina
Silva, são exemplos da importância da mulher no processo literário, de
defesa dos direitos civis, ou mesmo da valorização do papel feminino
enquanto agente social. Obviamente que há, na breve lista de
personalidades brasileiras, diferenças ideológicas, de posicionamento
político, literário, mas mesmo assim é de se destacar a importância de
suas contribuições pelo o fato de que ousaram em meio a uma sociedade
classista. Merecem respeito apesar de terem posicionamentos
diferenciados.
Apesar de avanços na emancipação feminina, ainda há
resquícios feudais em grupos religiosos, como o islamismo, o hinduísmo,
em movimentos paralelos ao protestantismo, ou mesmo em igrejas
pentecostais mais fechadas em relação a outras, que travam o avanço dos
direitos femininos, como de livre expressão, de inserção na sociedade de
maneira mais ampla, de participação no corpo eclesiástico. A Arábia
Saudita é um exemplo de Estado que interfere de forma prejudicial nos
direitos fundamentais da mulher. Ao mesmo tempo, outros países, como a
Índia e o Japão - apesar de avanços intelectuais e abertura ao Ocidente -
ainda não conseguiram solucionar os entraves que impedem uma real
valorização da mulher em suas sociedades, em suas culturas
diferenciadas.
No Brasil, tem se notado um avanço no sentido de que,
denominações como as Assembleias de Deus - a segunda mais antiga das
pentecostais e de maior número de membros em relação às demais igrejas
evangélicas brasileiras - que, nos últimos anos, amadureceu sua
compreensão do papel da mulher no ministério, e não somente: de seus
direitos enquanto ser humano, detentor de igual capacidade intelectual e
de pastoreio. A tendência geral é a de que a mulher conseguirá galgar
outras posições na direção nacional de suas denominações. Fundada há 14
anos por Glória Fernandes, em São José do Rio Preto (SP), a Igreja
Missão da Fé é um exemplo da capacidade feminina de pastoreio. Nas
igrejas neopentecostais - com exceção da IURD - a valorização da mulher
enquanto líder também tem crescido de maneira significativa, apesar de
alguns porquês!
Finalizo esta reflexão deixando meus sinceros
parabéns pelo Dia Internacional da Mulher. À minha esposa, Silvana, às
companheiras de vivência acadêmica, à colunista do Gnotícias Raquel
Elana por ser a única mulher a publicar textos pontuais neste portal, à
blogueira Yoani Sánchez por sua defesa da democracia, à Marina Silva por
sua luta ambiental e política. Enfim, a todos as mulheres destes brasis
diversos, diferenciados, parabéns por seu dia, por sua luta por um
futuro melhor